MOTO1000GP

Quando as feras voltam para casa

Fim de semana de velocidade sobre duas rodas em Cascavel (PR) pelo MOTO1000GP: uma ode ao medo de não ser rápido

26.04.2025  |  69 visualizações

Pense em feras enjauladas, que soltas em seu habitat, renovam a vida dentro de si, traduzida em rugidos que afugentam os mais medrosos. É assim quando uma competição de Motovelocidade recomeça. Feras enjauladas há meses - desde a última volta da última etapa do ano anterior - começam a ressurgir, como voltando de uma hibernação necessária. E quando isso acontece, o ronco do motor liberta pilotos e equipes, em uma competição que só os mais fortes suportam.

E não haveria habitat mais propício que o traçado curto - mas rápido - do Autódromo Internacional Zilmar Beux, em Cascavel. A cidade do interior paranaense, distante cerca de 600 quilômetros da Capital Curitiba, costuma lotar o circuito por uma torcida apaixonada por esportes a motor, cujas histórias lendárias desse traçado se misturam com a história da cidade, dos tempos em que “os argentinos vinham para cá aprender como se pilota”, contam os mais antigos.

Viva e pulsante entre um público fiel, isso tudo volta às páginas dos resilientes jornais impressos locais, sites nacionais e vozes empolgadas de quem, carregada desta vez sobre duas rodas, leva adiante esse legado. O MOTO1000GP, maior evento de motovelocidade nacional, avalizado pelo selo de Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, abre as jaulas para as suas feras, para a etapa inaugural do calendário. Um fim de semana que promete acometer seriamente de adrenalina aqueles mais desavisados, e também os viciados em um tipo de hormônio específico que somente a quebra de recordes é capaz de produzir em áreas específicas - e desconhecidas - do cérebro humano.

Na pista
Com mais de 18 horas de atividades de pista, o MOTO1000GP acolhe pilotos, patrocinadores e equipes que fazem parte do que está entre os melhores players no cenário nacional. Quando uma moto liga para os primeiros treinos do dia de uma sexta-feira, há um universo paralelo que se move por trás disso, colocando em sinfonia astros, astrólogos e outras dimensões, e seja lá qual for o seu signo, você também é impactado. Basta mergulhar de cabeça dentro desse buraco negro que suga a tua alma para dentro em um funil infinito.

Na pista, os primeiros treinos livres na sexta-feira (4), foi a oportunidade para as bestas-feras tirarem o pó do lombo, azeitar suas articulações e se prepararem para o safari que os aguarda nos dias seguintes, onde homens buscam dominar o indominável - algo entre o tempo, o vento e os recordes. Os classificatórios aconteceram no sábado, com o tempo fechado e chuvoso, assim como a primeira corrida da GP1000. No domingo, até o sol foi conferir de perto as corridas da Motul 300V Cup, GP600 e a segunda corrida da GP1000.

Gandola, a volta do bicampeão
Não é à toa que Ramiro Gandola é o atual bicampeão da GP1000 do MOTO1000GP. A bordo de sua BMW da Agem Racing, o argentino teve que, literalmente, “suar” para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar na corrida deste domingo (6). Vencedor também na prova inaugural de sábado, quando apostou mais na estratégia por conta da pista molhada, ele teve no pódio a companhia de Theo Manna (Ipiranga Bioleve Camargo Racing), em segundo, e Mauro Passarino (Bg Race Team), em terceiro.

“Foi uma corrida apertada. Acabei perdendo posições no começo e precisei manter um ritmo muito forte para conseguir vencer”, confessou Gandola. “A moto está fantástica, com um acerto muito bom. Só tenho a agradecer aos patrocinadores e agora já começo a pensar em Curvelo, na próxima etapa”, disse. Sobre a pressão que sofreu ao longo da corrida, o argentino afirmou que já sabe o que fazer. “Vou ter que treinar muito, porque os pilotos estão muito fortes este ano. Também preciso manter a cabeça fria. Ainda temos muitas coisas para acontecer, mas espero um ano muito competitivo”, avaliou.

As outras categorias que compõem o grid da GP1000 também conheceram seus vencedores neste domingo. Na 1000 EVO, Adolfo Maciel garantiu o primeiro lugar. O uruguaio da PRT chegou à frente de Julio Fortunato, da Sport Plus Racing, e de Manow Martins, da Pioneiro Motonil Motors. Já na 1000 Light, Eduardo Marques, da Motobel Brothers, levou a melhor, com Wesley Lima, da Sport Plus Racing, em segundo, e Rene Ferreira, da Moto3 Racing Team, em terceiro.

Turquinho “soberano” na GP600
O novo formato das disputas neste ano do MOTO1000GP deixou as corridas ainda mais empolgantes e disputadas. Com uma única corrida da GP600 no domingo - anteriormente usava-se o modelo de rodada dupla, com disputas no sábado e domingo - as disputas ganham um peso extra, e a preparação que antecede a prova é cada vez mais vital para o desempenho.

Seguindo essa teoria, Humberto Turquinho fez bem a lição de casa, com os melhores tempos desde os treinos livres da sexta-feira. “Para mim é uma experiência nova correr com motos dessa categoria. Mas foi uma corrida muito boa, busquei manter um ritmo confortável. Foi a minha primeira largada, estava um pouco ansioso, mas deu tudo certo”, avaliou ele.

Pela 600 Light, o vitorioso foi Antony Mendes, com as cores da W2v Motosports, seguido por Diego Haddad, da Drt Racing Team. Marcos Fortunato deixou a Sport Plus Racing no terceiro posto. Na 600 Master, um pódio dominado pela equipe PRT, tendo como vencedor Flavio Trevisan, com Guto Figueiredo em segundo e Hilton Loureiro em terceiro.

Motul 300V Cup: Cauã Rocha domina
De ponta a ponta, de treino a treino, Cauã Rocha parece ter encontrado o acerto ideal de sua Yamaha para a primeira etapa da Motul 300V Cup no MOTO1000GP. A vitória de domingo (6) ratificou um fim de semana de ótimo desempenho no Autódromo Internacional Zilmar Beux, em Cascavel (PR). Ele teve ao seu lado no pódio o piloto Vladimir Correa e Helena Oregana, da BG Race Team, em terceiro lugar.

“Confesso que foi uma prova difícil, porque estou com uma lesão no ombro. Minha tática foi imprimir um ritmo forte e abrir vantagem sobre o segundo pelotão. Deu certo”, avaliou o vencedor da etapa.

Além da vitória de Correa pela Motul 300V Cup Master, a categoria que integra o grid principal teve Diego Haddad, da DRT Racing Team, em segundo, com Junio Bereta, da BG Race Team, fechando o pódio. A Motul 300V Cup é a categoria de 300cc subsidiada pela multinacional francesa Motul, especializada em lubrificantes e fluidos de alta tecnologia.

Combustível necessário
Ao todo, nas sete categorias que competem neste fim de semana, 10 países foram representados. Será que os brasileiros farão frente aos estrangeiros? Quem acompanhar as etapas ao longo do ano certamente verá a evolução dos brasilianos dentro da principal categoria da motovelocidade nacional.

E assim, com o rugido dos motores ecoando pela paisagem de Cascavel, a primeira faísca da temporada 2025 do MOTO1000GP é acesa. Se os "gringos" manterão a hegemonia ou se a nova safra de "domadores" brasileiros provará sua força, só o asfalto implacável e as próximas etapas dirão. Uma certeza paira no ar: a busca incessante pela velocidade e a superação do medo continuarão a escrever os próximos capítulos desta eletrizante saga sobre duas rodas. Quem ousará cruzar a linha de chegada como a fera mais veloz deste retorno ao lar? A resposta, guardada a sete chaves pelo cronômetro, promete incendiar a temporada.

Que este reencontro com a velocidade seja apenas o primeiro capítulo de uma temporada repleta de rugidos, superações e a eterna busca por aquele instante fugaz de perfeição sobre duas rodas. O medo de não ser rápido? Que ele continue sendo o combustível para a próxima volta.

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